Ondas e/ou gerações em TC e/ou TCC?

Nos últimos cinco anos, dentro do contexto brasileiro, as abordagens mais recentes de terapias cognitivo-comportamentais vêm se popularizando. Se há vinte anos atrás a Terapia Cognitiva de Beck e a Terapia Racional Emotiva Comportamental de Ellis eram novidades para muitos em terras brasileiras, nomes como "terapia de aceitação e compromisso", "terapia comportamental dialética", "terapia funcional analítica" dentre outras são novidades para muitos agora. O fato é que nenhuma dessas abordagens é recente. Quase todas elas têm mais de 15 ou 20 anos, mas só começaram a ser amplamente divulgadas recentemente no Brasil. Um termo que vem se popularizando bastante já há alguns anos, entretanto, é "terceira onda" ou "terceira geração". Vistas por muitos como superiores às terapias de "segunda onda" (como a de Beck e Ellis), elas vêm despertando o interesse de muitos estudantes e psicoterapeutas.

O termo "terceira onda" foi inicialmente proposto por Steven Hayes em um artigo do ano de 2004 intitulado Acceptance and Commitment Therapy, Relational Freme Theory and the Thrid Wave of Behavioral and Cognitive Therapies, publicado no periódico Behavior Therapy. Neste trabalho, Hayes aponta a principal característica das chamadas "terapias de terceira onda", a saber: “sensibilidade ao contexto e às funções dos fenômenos psicológicos, não apenas em suas formas, tendendo a enfatizar estratégias de mudanças contextuais e experienciais em adição às ferramentas mais diretas e didáticas” (Hayes, 2004, p.658). Tal definição propõe uma distinção importante em relação à terapia cognitiva "tradicional" ou "beckiana", pois propõe o estudo da forma como os indivíduos se relacionam com suas experiências assim como trabalha de forma aprofundada estratégias experienciais no processo de mudança. De fato, para muitos que começaram a prática clínica como terapeutas cognitivos "tradicionais", o estudo de abordagens de "terceira onda" auxilia em grande medida o trabalho com pacientes que dizem que "entendem, mas não sentem", tão comuns nos consultórios. 

Embora essas formas de terapias mais recentes estejam reforçando as habilidades clínicas dos terapeutas cognitivo-comportamentais, será que de fato elas são superiores aos modelos tradicionais? A resposta pode dividir opiniões. No entanto, a tendência (pelo menos dentro do círculo dos terapeutas cognitivos) vem sendo a integração das psicoterapias, ainda que alguns sejam resistentes a isso.

Outro ponto intrigante é que na literatura não há consenso em relação aos próprios termos utilizados. Alguns usam "terapias comportamentais de terceira geração", outros "terapias cognitivas de terceira onda", outros ainda "terapias cognitivo-comportamentais de terceira onda". Mas afinal qual é o correto? Não há consenso absoluto, mas o mais empregado costuma ser "terapias comportamentais contextuais", que é o caso da ACT, da DBT e da FAP. Mas e outras formas de terapias como a Terapia Metacognitiva e a Terapia dos Esquemas, onde entram? Falar que elas estão no mesmo grupo das outras três soa como absurdo para muitos terapeutas comportamentais contextuais, embora para outros elas possam compor o "grande guarda-chuva das TCCs".





Stefan Hofmann e Steven Hayes, em janeiro deste ano, publicaram um livro intitulado "Process Based CBT", no qual os autores propõem uma TCC baseada em processos e não em "abordagens". Na mesma obra podemos encontrar um capítulo de reestruturação cognitiva e depois outro sobre desfusão. Em um momento fala-se sobre resolução de problemas e em outro sobre aceitação. Não há processo "correto" ou melhor", há processos que muitas vezes podem parecer paradoxais, mas as vezes também podem ser complementares. Não há preto e branco, não há pensamentos dicotômicos. Como diria Marsha Linehan, há "síntese de opostos". Talvez esse seja o futuro das TCCs: síntese de opostos.




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Referências:


HAYES, Steven C.. Acceptance and Commitment Therapy, Relational Frame Theory, and the Third Wave of Behavioral and Cognitive Therapies. Behavior Therapy, [s. L.], v. 1, n. 35, p.639-665, set. 2004.

HAYES, Steven C.; HOFMANN, Stefan G. Process Based CBT: the science and core clinical competencies of cognitive behavioral therapy. Oakland: Context Press, 2018. 480p.










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