Colaboração em terapia

São tantos livros para comentar, mas certamente para começar bem, uma boa escolha deve ser feita. E essa, sem dúvida, é o excelente livro de Willem Kuyken, Christine Padesky e Robert Dudley: Conceitualização de casos colaborativa: o trabalho em equipe em terapia cognitivo-comportamental. Este é um livro como poucos. Dá ênfase ao trabalho terapêutico diferenciado, personalizado. É o tipo de livro bom para quebrar tabus a respeito da abordagem cognitivo-comportamental. Os autores, em estilo claro, conseguem transmitir a mensagem de que a TCC não só é uma abordagem profunda e humana, mas também que preza pela personalização, pela individualidade.
Kuyken, Padesky e Dudley começam o livro contando sobre o dilema de Procrusto, um personagem mitológico que, quando recebia convidados em sua casa, teriam que caber na cama de seu quarto de hóspedes. Assim, caso o indivíduo fosse alto demais, cortava-se as pernas e caso fosse baixinho demais, ele deveria ser esticado. Em psicoterapia, o terapeuta pode ser como Procrusto e tentar adequar o cliente ao método de trabalho. É exatamente isso que os autores chamam a atenção para que não seja feito. Diversos autores já enfatizam a importância da conceitualização de caso. Não só de fazê-la, mas também de compartilhá-la com os clientes, que, muitas vezes, tendo uma percepção mais acurada de seus problemas, motivam-se muito mais com o trabalho.


O livro utiliza uma metáfora muito poderosa para falar a respeito do processo em TCC: a metáfora do caldeirão. Imagine um caldeirão de um material que conduza calor das mãos, duas mãos segurando este caldeirão e alguns ingredientes dentro do recipiente que reagem com o calor produzido. As mãos são as do cliente e as do terapeuta e os ingredientes são a teoria e pesquisa em TCC (oriundos da formação e dedicação do terapeuta) e também as experiências e pontos fortes do cliente. Os ingredientes com o calor reagem dando origem não só a uma compreensão melhor dos problemas como também a fatores importantes para o entendimento do caso como os predisponentes, desencadeantes e protetores.
Outro destaque é a ênfase nos pontos fortes do cliente. Algumas pessoas podem dizer que a TCC é uma abordagem que foca só na doença. Não é o caso da proposta de Kuyken, Padesky e Dudley. Eles não só dão importância aos pontos fortes como também os consideram fontes motivadoras que aumentam o engajamento na terapia, ou seja, podem ser fundamentais.
O livro é ricamente ilustrado e traz contribuições importantes para o trabalho clínico na abordagem cognitivo-comportamental. É um trabalho que vale como convite à reflexão a respeito da prática clínica tradicional. Em um caldeirão não há só o nosso conhecimento como terapeutas, há o conhecimento de uma pessoa única, singular, insubstituível. Há os pontos fortes de alguém que pode demonstrar sua força caso não seja incitado a escondê-la.
A grande mensagem do livro é a de que o trabalho em equipe com pacientes é fundamental e, além disso, é essencial considerar o indivíduo anteriormente à técnica. Quem disse que a TCC não leva em conta o sujeito?


Referência do livro:

Kuyken, W., Padesky, C.A., & Dudley, R. (2010). Conceitualização de Casos Colaborativa: o trabalho em equipe com pacientes em terapia cognitivo-comportamental. Porto Alegre: Artmed.

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