O amor...

O amor é um tema já conhecido de muitos. A bibliografia sobre o tema é muito vasta, indo desde a filosofia até as neurociências que explicam os mecanismos cerebrais do amor. Para alguns, esta última abordagem tira o romantismo do sentimento, uma vez que o reduz a reações químicas. De fato, pensar qualquer assunto sob uma única ótica fará com que não haja discussão e que tudo fique reducionista.
Muitos de nós ouvimos falar sobre problemas de amor. Seja na vida pessoal de algum amigo ou conhecido, em histórias românticas (ou nem tanto), nos consultórios ou em qualquer outro lugar. Parece que o amor é um assunto que permeia os pensamentos de praticamente todo ser humano. Na psicoterapia, quase todas as pessoas queixam-se dele (ou da falta dele).
Partindo de observações sobre essa extensa população desgostosa com o amor, o psicólogo italiano Walter Riso escreveu sua trilogia "Amar ou depender", "Amores de alto risco" e "Manual para não morrer de amor".
O primeiro volume trata de uma característica fatal não só aos relacionamentos, mas também à auto-estima das pessoas: a dependência. É muito comum encontrar pessoas que engajam-se em relacionamentos de forma tão intensa que acabam por depender dos mesmos. Como diz o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, vivemos em uma época de laços frágeis, líquidos, fluidos. Esta é uma característica de nosso momento. Imagine só uma época controvertida em relação ao amor aliada a pessoas que pensam que dependem extremamente deste mesmo sentimento. O resultado é pessoas dependentes afetivamente que vagam de um relacionamento para o outro engajando-se em romances muitas vezes fracassados desde o início. Quando tudo acaba, a pessoa diz: "eu sempre me envolvo com canalhas". Podemos fazer um paralelo com o que Jeffrey Young e seus colaboradores chamam de padrões comportamentais desadaptativos. Uma pessoa vive de acordo com seus esquemas e age no mundo de modo a confirmá-los. Caso uma pessoa tenha um esquema de abandono, por exemplo, é bem capaz que seja uma das pessoas que caiba nas descrições de Riso em seus livros. Mas o assunto dos esquemas fica para outro dia.
Voltando à obra do terapeuta cognitivo italiano, os livros são escritos em estilo claro, conciso e extremamente agradáveis. Pode ser considerado livro de auto-ajuda sim, o que aliás, é um rótulo que merece ressalvas. Muitos psicólogos olham para esse tipo de livro com o nariz torcido, como se todos os livros desse gênero fossem ridículos e dessem "receitas" para o bem viver que não levam nada em consideração a individualidade. Claro que existem livros de auto-ajuda muito ruins que são escritos só para engordar a conta bancária das editoras e autores (mais das editoras) - e geralmente são esses que fazem mais sucesso. Mas não podemos nos esquecer que há livros do gênero que são realmente bons para ajudar pessoas a entender melhor um problema e, até mesmo, para auxiliá-la na psicoterapia, servindo como material psicoeducacional. É o caso dos livros "Como lidar com as preocupações" de Robert Leahy, "Para além do amor" de Aaron Beck, "Fique frio" de Albert Ellis, o clássico "Feeling Good" de David Burns entre outros. Os livros de Riso entram nesse time de bons livros de auto-ajuda.
Continuando, Riso em seu primeiro volume da trilogia aponta que a dependência afetiva é como um vício. A pessoa se desgasta excessivamente, não tolera frustrações no amor e ilude-se constantemente em relação a praticamente tudo no amor. Mesmo quando o relacionamento vai mal, engana-se dizendo coisas como "ele(a) me ama mas não percebe", "esse é o jeito dele(a) de amar" ou "ninguém é perfeito. Há casais piores". Riso lista uma série de pensamentos auto-enganosos que pessoas podem ter com o intuito de manter um "amor" que mais se aproxima de uma droga do que de um relacionamento pleno.



O segundo volume da trilogia de Riso, "Amores de alto risco" trata dos tipos afetivos que todos, segundo o autor, "seria melhor não se apaixonar". Olhando o título assim, na hora pensamos que é uma pura catalogação de pessoas barata. Não é verdade. Riso aponta traços de personalidade que podem ser encontrados em diversas pessoas como o histriônico, o paranóico, o passivo-agressivo, o narcisista, o perfeccionista e outros. Certamente cada pessoa é uma pessoa, mas vários indivíduos podem ser histriônicos e cada um apresentar isso de um modo distinto, mostrando porém, semelhanças em alguns traços que o autor esmiuça e, seu livro. A obra tem muito a ver com a teoria de Jeffrey Young e vale a pena ser lida para quem se interessa pelo tema.



Já o terceiro volume, "Manual para não morrer de amor" trata dos erros que as pessoas cometem nos relacionamentos e que fazem com que tudo fique perdido. Ele divide o livro em dez princípios que, segundo ele, são fundamentais para se constituir um relacionamento saudável. Obviamente que todo relacionamento terá seus problemas, mas erros como anular-se, idealizar demais o ser amado e esperar que os outros gostem de você sem gostar são fatais a qualquer projeto de romance. O autor utiliza em vários momentos distorções cognitivas que os indivíduos têm sobre o amor e sobre a pessoa amada e como isso afeta o modo de nos comportarmos (muitas vezes de forma autodestrutiva).



Embora o livro tenha o caráter de um "manual", serve como psicoeducação afetiva para muitas pessoas que dizem "não conseguir encontrar a pessoa certa". Recorrendo a Bauman novamente, os laços podem sim estar frágeis, mas muito do que pensamos sobre romances e relacionamentos e do que fazemos dentro de uma relação pode amplificar a fragilidade dos laços humanos e é para isso que Walter Riso chama a atenção em sua trilogia. Como diz o título do clássico de Beck "Love is Never Enough", só o amor não é suficiente: precisamos ter uma boa dose de auto-estima, bom-senso, habilidades sociais e visões não distorcidas sobre o amor e os relacionamentos.

Referências dos livros:

Riso, W. (2008). Amar ou depender? Como superar a dependência afetiva e fazer do amor uma experiência plena e saudável. Porto Alegre: L&PM editores.

Riso, W. (2010). Amores de alto risco. Os estilos afetivos pelos quais seria melhor não se apaixonar: como identificá-los e enfrentá-los. Porto Alegre: L&PM editores.

Riso, W. (2011). Manual para não morrer de amor: saiba como evitar os erros que podem arruinar seu relacionamento (ou colocar você em uma cilada amorosa). São Paulo: Academia da Inteligência.

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